18 de maio de 2010

NAMASTÊ



Há muito tempo venho pensando neste post sem me perder. Crio um outro blog? Digo coisas ali e aqui? Escrevo aqui mesmo.

Deletei uns textos ruins, deixei os mais ou menos. Ainda não aprendi as novas regras gramaticais. E não será hoje.

- Mas as pessoas na sala de jantar estão ocupadas em nascer e morrer.

Um dia, um amigo disse que queria se dedicar à música. Éramos adolescentes. Seu avô era contra a idéia. Sabe aquele preconceito idiota que a gente tem no subconsciente sobre qualquer coisa que a sociedade abomina e, de repente, ecoa um "Xiiiii..." silencioso na mente? Pois é. Imagino os avôs quando ainda nem eram avôs: "Tal cara quer ser artista? Xiii..."

Liguei isso ao fato de há algumas décadas músicos e artistas eram taxados como gente sem muito objetivo na vida. Não que isso seja demérito, mas até hoje ouço que "virar artista" não era considerado seguro.

A partir da década de 70, o meio artístico começou a ser levado a mais sério (financeiramente falando), principalmente na música. Gente começou a ganhar dinheiro com isso.

No começo da década de 80 veio a MTV, que foi o berço da cultura pop. Naquela época, não havia muita história pra contar. Se havia, ainda estava sendo contada! Hoje, com algum estudo, dá pra traçar alguns paralelos. Fato é que o showbizz contrariou todo mundo nos 80's com esse lance de "Pai, posso ser mais rico que você com minha banda". Inimaginável, pois poucas haviam conseguido até então.

A impressão que dá é que estou culpando a MTV de ter transformado arte em indústria rentável. Bom, tudo o que existiu de mercantilista antes foram os Beatles, que inventaram os clipes, as turnès mundiais, os trajes e a contracultura, mas, ops, eles não existiam mais. John Lennon estava morto. Tudo se afogou em champagne, ácido e caviar na Apple Records. Os festivais de Woodstock, Monterrey e tudo mais não derrubaram Ronald Reagan e a Guerra do Vietnã. A Europa se dividia entre o capitalismo pós-guerra e a cortina de ferro. Os EUA se afundavam na crise do petróleo e a América do Sul vivia a instabilidade política e economica das ditaduras. Fato é: os anos 80 e a MTV mudaram esse conceito de que artistas não davam certo: as bandas começaram a fazer turnès mundiais, vender milhões de discos e isso rendeu muito dinheiro, ou seja: era a arte finalmente entrando no rol das coisas indispensáveis para qualquer sistema capitalista que se preze.

Já hoje, com a internet, a indústria fonográfica se afoga no Brasil porque ninguém soube se adaptar direito. E os Yankees? Aliás, negócio e inovação são com os caras, seja na música ou em qualquer coisa. Eles tem a Apple Store, nós temos o Trama Virtual (sic). A gente só lucra com terceirização, política, petróleo, igreja e exportação agrícola. Eles lucram com tecnologia, inovação e vendendo cultura própria. Percebem a diferença?

Depois da morte do CD e das grandes "bandas" criadas pela mídia nos 80's, as produtoras agora querem amenizar o prejuízo com preço de ingresso.

(Gancho: vocês se lembram o monte coisa horrível que recebeu o rótulo de 'banda' nos 80's? E concordam que as bandas 'sobreviventes' só foram aprender a tocar de verdade nos 90's?)

O lado bom é que tem espaço pra todo mundo mostrar seu som. O bolo de grana que era centralizado no mainstream agora se reparte com a cena independente. Felizmente, vejo muita gente imparcial, curiosa, que ouve de boa música, analisa e aprecia bandas novas sem deixar as antigas de lado.

Alguém duvida que a megalomania na música acabou? A indústria fonográfica se dividiu, perdeu força. As grandes bandas acabarão. Estamos voltando ao começo, onde existia uma cena, mas não existia showbizz ou mainstream. Era todo mundo ali, na "brodagem", vendo o show um do outro, tocando e criando juntos...

Hoje, cedo ou tarde, quem faz música de qualidade aparece. No entanto, voltou a ser tão difícil quanto era. No fim das contas, o importante é que a arte, aos poucos, vai assumindo seu lugar novamente sendo um instrumento incondicional de expressão humana (sem precisar encher os cofres de gravadoras e produtoras).

Contrariando tudo isso, o que vende muito, ainda, é o 'produto' música. Tem muita gente rica com isso e não é só aqui. Lá, vendem Lady Gaga pra quem assiste Oprah.

E me pergunto: na década de 60, aqui no Brasil, as pessoas compravam Mutantes e hoje, em 2010, compram Victor & Léo. Ambos são artistas populares e reconhecídos, mas, o povo compra porque realmente gosta ou isso é imposto como um produto obrigatório? Ou os dois?

Aqui, vendem todo ano coisa nova 'pra dançar, se apaixonar e ser feliz'! Não é arte verdadeira, é verdade, mas satisfaz o cara que aguarda ansiosamente o último capítulo da novela, assiste BBB e escuta Victor & Léo.

(Não tô querendo desmerecer os caras. Tem coisa pior).

- Bye, bye, Brazil.

Odeio essa agitação de Copa do Mundo. Será que sou obrigado a torcer pelo meu país? Oh, quanto senso de união temos, não? De 32 seleções ou 20 pilotos, preciso torcer para o Brasil porque minha vida é uma merda e desisti de torcer para mim mesmo? E se o time conseguir um bom resultado, sem necessariamente vencer? Quem vou esculachar dessa vez?

Pra quê todo esse senso de união, de um por todos? Porra, estamos entre os melhores do mundo! Mas, e se perder? Vai ser a meia do Roberto Carlos, é o Barrichello que é devagar, é o Dunga cuzão...

O brasileiro supervaloriza um campeão tornando-o um deus intantâneo, humilha seus atletas de ponta porque não foi o melhor de todos e tem memória curta. Quanta moral, não?

Quem nunca já ouviu um:

- "Ele sempre chega em segundo. Que lixo!"

- "Olha o eterno vice, aí!"

Cara, odeio isso profundamente. As pessoas não sabem acordar no dia seguinte e, independente do vencedor, pensar: "Nossa, que grande corrida!" ou "Que grande jogo!".

Lá estão os melhores, mas vou deixar de gostar porque o meu time não ganhou? Tenho que ficar triste porque uma emissora e um bando de marqueteiros apitam que a perda gera um luto coletivo? Eles vão ficar tristes se o Brasil perder porque terão prejuízo: a marca não vai mais veícular, o frisson vai passar e o povo não vai ficar nessa anestesia de que 'somos os melhores do mundo, vamos às compras!'.

Mesmo se Felipe Massa ganhar o campeonato e a seleção for campeã, nós realmente seremos os melhores do mundo? Porra, sua vida vai mudar? Meu amigo, na semana seguinte, você estará na igreja querendo a ajuda de Deus e nem vai lembrar do hexacampeonato!

É por essas e outras que, a cada novo campeonato, me irrito cada vez mais com esse falso frisson que "O Brasil é favorito, assistam!".

Foda-se, saca? Vamos apreciar o esporte! E vocês? Estão preocupados em vencer na vida? Em servir de exemplo? E se a gente pensar no inverso: o Brasil torce por você? Te ajuda?

Porra, brasileiro é fodido. Qualquer resultado esportivo não muda a vida de ninguém. Antes de qualquer coisa, torça para você mesmo. Já demonstrar preocupação política é, no mínimo, mais inteligente.

Parabéns a quem incentivou a campanha Ficha Limpa, que resultou na aprovação da Lei que proibe candidaturas de políticos que já tenham cometido crime ou que tenha algum processo em andamento. Não é muito, mas é sinal de que a molecada pode se mobilizar e usar a internet para tal. Achei ridículo o #ForaSarney pelo Twitter, mas a campanha pelo projeto Ficha Limpa foi além. O pessoal se organizou direitinho. Parabéns ao Avaaz.org. Funcionou.

- Everybody Lies.

A adolescencia é um tédio. A molecada não tem dinheiro, não conhece os lugares, não sabe lidar com um monte de coisa e ainda corre risco de se traumatizar logo cedo com qualquer relacionamento afetivo.

Para a molecada de algumas décadas atrás, o pós guerra foi ainda mais traumático. Depois, os anos de ditadura e a farsa do milagre economico deixou muita gente na pindaíba. Para um país de 90 milhões de pessoas sem muitos recursos, era difícil de fazer qualquer coisa.

Normalmente, depois de algum trauma, não queremos outras pessoas passem pela mesma situação, muito menos nossos dependentes, mas depois da instauração de regime político-democrático, em 84, e do plano real, em 94, quem era criança ou adolescente cresceu num ambiente econômico-social mais favorável, e, é claro, regidos sob o desejo subconsciente dos pais que queriam dar para os filhos tudo o que não tiveram: roupa lavada, comida no prato, ensino particular, convênio, roupas, estabilidade, opções de entretenimento, cultura pop disseminada, presentes de natal, páscoa, aniversário, dia das crianças ... tudo na mão, fácil.

Mudou a idade, mudaram os brinquedos. Hoje, a molecada que cresceu quer grana, casa, carro, roupas e os brinquedos que todo adulto quer. Óbvio que devemos dar espaço para família, filhos e todo o social, mas incomoda ver as pessoas sendo escravas do dinheiro, do trabalho e da rotina para conseguir o que querem. É como matar a fome sem apreciar o sabor da comida.

O trabalho em si deve ser uma experiência recompensadora, acima de tudo. Basicamente, é aquilo que você faz, constrói todo dia, seu conhecimento sobre uma profissão.

Acho que muitas famílias hoje em dia acabam 'amputando' seus filhos mentalmente, no sentido de valores, mesmo. Desde criança, em época de natal, páscoa, dia das crianças ou aniversário, ficávamos ansiosos para receber presentes, mas nunca soubemos ao certo porque estávamos recebendo aquilo, num mérito meio distorcido que só deixava a gente mais ansioso. Hoje sabemos que os pais, no fundo, só querem tornar nossa vida mais fácil, mas, eles nos preparam para situações de crise?

No Brasil, as pessoas estudam sem estudar, trabalham sem trabalhar, compram sem pagar e são impacientes para esperar. Quem já não foi pra faculdade só pra pegar presença? Quantos dias você já foi pro trabalho e não conseguiu produzir nada? Quantas coisas você já comprou no cartão e ainda vai pagar? Quantos relacionamentos já terminaram em poucos meses porque você 'enjoou' da mesma pessoa? Quanto valem as suas decisões? Quantas vezes você começou na academia e parou porque não virou uma Olivia Wilde em 3 meses?

Cara, já vi gente ser admitida e depois de 1 ou 2 anos querer ser gerente! Somos ansiosos para fazer acontecer, para provar que somos bons, que as coisas dão certo, que o carro finalmente vai ser meu, que sou independente, que serei promovido, que terei aquela roupa, aquele sapato, que vou perder peso rapidamente, mas, não somos preparados como adultos para quando as coisas dão errado! Crescemos esperando um presente a cada três meses, e agora não admitimos que as decisões sobre a nossa vida esteja na mão dos outros. Não levamos a sério nossas decisões. Quantos projetos pessoais você já largou pela metade? Quantos namoros você já terminou, voltou, terminou, voltou e terminou? Nos transformamos em seres amputados.

Porquê o twitter bombou? Porra, as pessoas são ansiosas, e toda hora tem alguém falando alguma coisa nova lá, por mais idiota que seja. As pessoas são incapazes de lidar com o tédio e encarar de frente o que realmente precisam fazer: sobra se esconder por trás dessas redes sociais. Aliás, o sentido colaborativo das redes sociais hoje é secundário, tipo, pegar um assunto, explorar diferentes pontos de vista e executar. As pessoas querem é se divertir como ... adultescentes!

Todo dia vejo um monte deles espalhados por aí, morando com os pais, cheios de egocentrismo, ansiosos, doentes, sem saber construir relações verdadeiramente sólidas... E por outro lado a indústria, com muita rapidez, tentando preencher esse vazio com novas bandas, novas séries, novos campeonatos, novas modas que vão e vem....

Claro, faço parte de tudo isso.

E esse conceito ridículo de sustentabilidade que falam por aí?

As empresas vendem isso associando suas marcas à certificados ambientes, mas, e as pessoas? São sustentáveis? Não tô falando de tomar banho em cinco minutos, mas a meninada hoje consegue lavar a própria roupa? Fazer a própria comida? Lavar a própria louça e organizar o próprio quarto? A intenção pode até existir, mas crescemos amputados, sem saber lidar com isso. É uma regra, e como toda regra...

E os gays? Esses que me desculpem, mas tem muita gente mudando de sexualidade por ansiedade, por moda. Deve ser muito frustrante assumir essa mudança procurando uma vida melhor e ver que as velhas perguntas continuam sem resposta. Não sou gay e não tenho preconceito, ao contrário do que algumas pessoas pensam. Felizes os que fazem isso por convicção.

Aliás, o que é preconceito quando a igreja católica abomina homossexuais abertamente? Creio que seja muito mais grave e preocupante. Alô você, nobre católico defensor dos direitos universais do homem, o que acha disso?

- Será que eu vou virar bolor?

A vida continua. Não é uma música. Não é um episódio.

Viver é olhar pra o céu, ouvir os próprios passos no quintal. É o silêncio. É o céu nublado, cinza. É o que precisamos, fazemos e construímos. É passar as coisas pro papel, e do papel pra vida. E logo já não existiremos. Não tem fantasia. Ninguém conspira contra ou a favor.

Viver não é videogame. O buraco é mais embaixo. A diferença está nos detalhes. Não é tão simples, nem tão complexo, mas é difícil estar sempre certo.

Devo acreditar em Deus? Ter um amigo imaginário não é má idéia. Não estar sozinho me conforta. Deus é não estar sozinho e, no final, ninguém quer estar.