20 de abril de 2011

REALISMO (NÃO) CONVINCENTE



O despertador toca às 06h30 da manhã e interrompe mais uma experiência de imaginação do inconsciente. Esse é mais um daqueles textos em que a gente escreve sem se importar com o que vai sair. Olhei para a janela e as válvulas do peito se encheram de senso negativo. Hoje, já saindo de casa, voltei para buscar uns contratos que não poderia esquecer, mas lembrei que sonhei que tinham me pedido isso. Não havia contrato, nem nada. Me assustei comigo mesmo. Faz tempo que venho numa sequencia de sonhos malucos por noite, mas hoje foi a primeira vez que isso se misturou ao real, de forma natural. 

Acho que a realidade tem sido áspera ultimamente. Penso constantemente no futuro, nas coisas que tenho feito, nas decisões que (não) tomei, nos planos para os próximos anos, e talvez tudo isso seja uma forma inconsciente de escapar do presente. Vejo a janela, ouço o silêncio do quarto e penso em ouvir algo alinhado com meu estado de espírito, mas nada vem à mente. Logo, sinto o enclausuramento de olhar para a tela do computador e não querer fazer absolutamente nada. E, depois, digo: "Afff".

Me sinto em todas as épocas da vida. Penso em como seria se se se se se se se, mas não vivo o que deveria estar vivendo. Me sinto forte para passar por isso, capaz para entregar meus projetos e encontrar minha identidade, mas frágil para lidar com tédio-pessoas-válvulas afeto-hormonais. Todo mundo, em algum momento da vida, deve se sentir meio fora da realidade. Quando o despertador tocar novamente, vou continuar misturando os sonhos com a vida, mas numa solidão de correr para as colinas. 

Espero não levar muito tempo para juntar essas dimensões temporais. Essa conversinha entre relógios está me matando.

17 de abril de 2011

BRIDGE BURNING


O que a senhora fica pensando nesse tempo todo? Fico pensando umas doidices. Quais doidices? Umas doidices. Fico pensando nos meus filhos, sonho com eles. Ela fica assim, indo de lá pra cá, não sossega. Fica horas sentada lá. Vovó, você ficou triste? *Balança a cabeça afirmativamente, recosta no meu ombro* Vó, as pessoas não conseguem ficar muito tempo juntas hoje em dia. Acontece. As pessoas se cansam umas das outras e não conseguem ficar muitos anos juntas. Se as pessoas fossem mais egoístas, o mundo seria melhor. Mariel, a politicagem neste país não é absolutamente nada. Não tem como o país não crescer. O crescimento é movido pelo empresariado. Sede, fome, sujeira, limpeza, paradoxos. Eu bodeei, como já era previsto. Já era de se prever, né? O que a senhora fica pensando? Não sei, umas doidices, minha cabeça não para, meu filho. Mariel, algumas pessoas são destinadas ao sofrimento. Ela cuidou de uma, agora cuida de outra. Ela não tem vida própria. Coitada. Talvez seja uma boa ficar inconsciente. Ela não tem força na mão. Suja tudo. Acabou a água. São Paulo acelera as pessoas de uma forma estressante e você entra na loucura. Mariel, eu não sei quem são nossos vizinhos. Com esse e com aquele não converso. Não sei quem são os proprietários das outras casas. Preciso sair daqui. Com certeza, precisamos sair. Isso é inadmissível. Ela lembra um mendigo. Anda com a coberta na cabeça. *Limpa a bateria com alcool, monta, e diz para si mesmo que vai treinar* Acho que sou um homem de família. "gathering the ashes everything blown away gathering the ashes scatter and they blow away gathering the ashes everything blown away" E reclamamos. E reclamamos. O que a senhora fica pensando? Não sei, meu filho. Umas doidices.

11 de abril de 2011

FRANCINE


Não posso fazer você não acreditar no que você sente. É louco que tudo isso seja uma maneira diferente de falar de amor. Você não pode me fazer não acreditar no que eu sinto. Nós fechamos os olhos e quando abrimos, batemos de frente com um muro que tem sido contruído há muito tempo. Parece muito errado. Tentar mudar isso é desumano, é impossível pra uma pessoa só. Para nós é muito natural que exista um muro, mas é difícil aceitar que não estejamos do mesmo lado. Mil teorias e mil lágrimas não iam ajudar em nada. A gente fez melhor: a gente fechou os olhos e acreditou em nós dois. Mais do que separar, talvez esse muro nos proteja.

Tentar empurrar por anos esses jeitos de acreditar na vida ia acabar matando nós dois aos poucos, de um jeito invisível. Vivi com você uma vida inteira, te amei de todo o coração e sinto que poderia te fazer a pessoa mais feliz do universo, mas, ao meu modo, não seria o suficiente. No fim não ia sobrar eu, nem você. E pior, não ia sobrar nós dois juntos, de qualquer jeito. O que resta é reutilizar isso para me tornar uma pessoa melhor, mas vai ser difícil ser feliz sem o seu sorriso largo. Não foi um fim bobo, como é óbvio que não aconteceria com a gente. Você tem pensamentos muito grandes, eu tenho sentimentos muito grandes. Nossa paleta de cores que tava se misturando acabou transbordando.

Melhor que seja assim. Está chovendo, mas vai secar. Jamais me conformaria que você se conformasse. Não seremos felizes por agora, mas ficaremos com a paz daqueles que fazem o que acreditam. E é com essa certeza que eu sei que tenho - e sei que você tem - que a gente vai encontrar a paz, sabe lá quando. Espero que o futuro não nos traga nenhum arrependimento. Isso dói. E eu amo você, paciência. A gente só tem que deixar a dor passar. Acho. Esse é o tipo de página que devo marcar [e não virar]. Te amo.

10 de abril de 2011

WHERE THE STREETS HAVE NO NAME


Ontem foi um sábado daqueles em que você acorda anestesiado, como um mecanismo de proteção do cérebro quando a semana é cheia de percalços. Tomei um banho e saí de casa às 11h30 da manhã. Fiz alguns telefonemas com um enorme esforço. Não estava minimamente empolgado para os shows de rock que assistiria mais tarde. O ingresso já estava pago, mas juro que cogitei vendê-lo.

Me reuni com uns amigos para almoçar, e foi confuso. Não conseguia desenvolver assuntos e olhar para as pessoas. Meu eu social estava flutuando. Normalmente, neste tipo de situação, ponho uma máscara e abdico dos meus sentimentos para tentar ser mais agradável, mas passei a semana com o espírito desarmado. Minhas expressões tem sido fiéis ao meu coração e não quis contrariar.

Ontem fui para o show do U2 como se estivesse indo trabalhar. Pura obrigatoriedade: aquele mar de gente indo para o estádio, o trânsito, a longa caminhada de ida e volta... não estava ali. Não fazia parte daquilo. Não queria estar em um show de rock. Tentei transparecer certa empolgação aos amigos que me acompanhavam, mas não consegui. Eles perceberam.

Devo dizer que, se me empolguei, foi com a banda da abertura, o Muse. Cantei "Hysteria", mas bocejei em "Elevation". Pulei em "Knights of Cydonia", mas coloquei as mãos no bolso em "Beautiful Day". Não sei. O U2 é uma das maiores bandas do mundo, tem estado no topo há mais de 30 anos e é a banda mais lucrativa da história, mas caiu na vala do easy listening. É o tipo de banda que se ouve em todos os lugares e todo mundo gosta. Virou um produto genérico, uma unanimidade construída com o que existe de melhor em produção, palco, tecnologia e qualidade de som ao vivo. Nunca tinha visto nada parecido. É realmente impressionante, mas o setlist foi burocrático.

Sou mais adepto dos primeiros discos, da crueza do "October", da perfeição pop do "War", do experimentalismo do "Unforgettable Fire" (meu favorito) e da genialidade do "Joshua Tree". O que vem depois não me agrada. Azar o meu.

Talvez meu julgamento sobre tudo tenha sido deturpado pelo meu estado de espírito. Para qualquer amante de música, é obrigatório ver um show do U2 na vida, mas não queria ter ido só por obrigação. Paciência.

Voltei para casa pensando em como superar o que não quero superar, mas vou encontrar meu caminho de novo.

5 de abril de 2011

POST MORTEM


Não é hora de escrever. Não é hora de falar. O que é necessário agora não existe, não se comtempla nas avenidas, não é racional, fixo ou unamidade. É como sonhar pesadelos, errar um belo acorde e perder o rumo dos passos numa tarde de céu rosa.

De tanto tentar em tão pouco tempo, vem a impressão de que não há um lugar certo. Tudo vira uma esquina só, imprevisível e familiar ao mesmo tempo. Esses são dias em que o tempo não passa e os caminhos não se desenham.

Apesar dos membros intactos, me sinto amputado. Meus pés quase não existem e me levam sem critério. Entre um bar e outro vem a nitidez de que, as vezes, não estar em lugar nenhum também é um lugar, daqueles de querer respirar entre carros cinzas e ruas desconhecidas.

Sinto um frio de dentro pra fora. Vontade de voltar, de deixar, de implorar, de abraçar. É como escolher entre cortar a corda e puxar a âncora. Sinto que o belo poema que havia dentro do meu peito se rasura por sentidos inexistentes e critérios desregulados. O amor é uma linguagem universal, sensorial e deve ser manifestada com a loucura de uma vida inteira ou de um instante.

Agora é hora de recolhimento. Não resta nada a não ser mudar por mim mesmo e me tornar um verdadeiro homem que assume seus erros, cumpre suas promessas, aperfeiçoa seus métodos, exercita sua criatividade e espalha amor real entre seus amigos e sua família. [só não diga nada que me viu chorando e pros da pesada, diz que eu vou levando.]