29 de setembro de 2010

MAYBE I'M AMAZED


Eu te amo. Sinto que isso empurra, lustra o peito, converte as dúvidas em certeza, em riquesa anormal: torno-me irracional, expulso o trivial, chuto o previsto, calo o indeciso, te aliso, aqui, dentro de mim, assim, ah! seus cabelos, a parte que faltava, é você, sim!

E eu te amo.

Você circula em voltas infinitas e torna meu reencontro comigo mais bonito, meus castigos merecidos, meus sentimentos mais precisos, meus planos mais coesos, minha raiva mais amena, meu desespero mais sereno, minha sorte mais estável, minhas chances mais claras.

Eu te amo. Você é meu futuro brilhante, meu passado apagado, minha presença pacífica, aqui, do meu lado, toda linda para sempre, para tudo, para o que der e vier: você será minha única mulher, da cabeça aos pés, no sol, no inverno, do céu ao inferno.

Você será meu alívio, meu quarto vazio, minha gripe, meu frio, minha tristeza, minha prisão, minha liberdade, minha agenda cheia e meu tempo livre. Nos dias de chuva, sou eu quem estará lá, para te afagar, para brigar com você, para te repreender, para dizer tudo o que tenho que dizer e me afastar, voltar de novo, canalisar todo o meu ser em outro, deixar de ser ogro e continuar a ser quem sou. E te amar do meu jeito, mesmo que seja obsoleto. Hoje estou desse jeito.

Agora estou ouvindo Paul. Tenho aqui tudo definido sobre amar e ser amado.

E talvez esteja maravilhado.

28 de setembro de 2010

UNIVERSO VOCACIONAL


"É envelhecer, se olhar no espelho, ser tomado por saudáveis reações. Sem aquele vazio nebuloso, deletado por plena satisfação. É que com vigor de criança e solidez mental é simples viver num universo vocacional."

Nervoso e os Calmantes, "Universo Vocacional", 2009



Dispersão. Não, dessa vez não parei na contramão. O fluxo continua no silêncio do rádio relógio piscando, no celular carregando no modo soneca e na porta entreaberta.

De manhã, o barulho eletrônico me desperta do sonho em que junto a distância desconexa entre o que há e o que será. Quantas teclas terei de apertar pra conectar esses dois paralelos?

Ganhei outra dimensão e várias camadas. Caso fosse uma só, não teria graça. Dentro do peito, um laminado de wafers difíceis de desviar, numa estrutura rígida que pode desmontar caso apareça um dispositivo capaz de me impedir de pensar demais.

E o caminho é um só.

18 de setembro de 2010

FREE AS A BIRD


Eu vejo uma tomada com pinos diferentes, daquelas que todo mundo vê. Eu vejo um calendário, os dias passando e vou gravando, na mente, toneladas de sementes de coisas novas, velhas e que não existem (essas com mais frequencia).

Vejo sozinho, aqui do meu ninho, tudo o que tem lá em cima. Olhar pra baixo não me anima. Estar sozinho, ultimamente, também não. Gosto de voar, bater asas, sentir o vento na cara e visitar outras ninhadas, afinal, o coração deste pássaro é grande e pequeno ao mesmo tempo, mas se recusa a estar na mão de quem não tem as mesmas certezas que tenho.

Um dia, vou dividir meu ninho. Derramarei todo meu sangue por essa associação. Derramarei algum sangue por essa associação, mas nenhuma gota vai cair no chão sem uma certeza recíproca. Não arrastarei uma asa sequer.

Se nada houver, fico aqui com a solidão e a liberdade de voar para onde quiser.

16 de setembro de 2010

FRESTA DE VIDA


Por Cinthia Montagner (@cinthiamtg) e Mariel Moura (@marielmoura)

Hoje chamou-me a atenção um homem no ônibus. Franzino e idoso. Os lábios quase inexistentes comprimiam os poucos dentes que restavam. Usava um boné vermelho que me fez lembrar um guerrilheiro. A barba rala mal cobria os sulcos profundos do rosto. Pensei

mesmo que ele poderia ser o homem mais velho do planeta. Toda a gravidade do mundo se concentrava nele. O sacolejar do transporte não o abalava: dançava com o asfalto. Os olhos perenes e densos no horizonte, de quem já balançou demais na estrada da vida.

E a vida, como a de qualquer idoso ou daquele senhor caridoso que, sentado ali, inerte, via a vida, já nem tem mais tanta vida: só uma fresta de vida, uma visão da janela, uma flanela que limpa os vidros num dia de chuva até secar. Não há intensidade, não, sim, nada, sorte ou azar: agora é decidir menos e esperar o tempo passar.

Já não há fé no futuro, amor puro, e todas as estações já brotaram do escuro. Tudo é resguardo, medo de sofrer, medo de morrer. Ele tinha tanto poder e não sabia, tudo tinha saída. Ela era bonita e possível. Ainda tinha muitos amigos. Poucas vezes estava aflito.

Vivo de mim, do que amei, do como saber viver - se é que sei -, de onde cheguei, do que tenho aqui. Será que cheguei aonde quis? Será que sabia aonde queria chegar? Não importa. O mundo continua transbordando ignorância e gente com fome. E quem está em cima, no geral, continua mau.

Fico aqui, parado, dançando com o asfalto e olhando pela janela. Olha como ela se parece com ela. Sim, aquela moça que me olha. Tem dó ou quer me levar pra lá. Eu já perdoei, fui perdoado e cansei de misericórdia. Dá um sorriso, pelo menos, e vai embora. Não importa qual time ganha a Copa. Tudo já foi. Agora só quero ir pra casa e guardar seu olhar, me trancar até esquecer. Outro dia, saio, não me custa. Agora, sobra juízo: tenho tudo que quero, mas não tudo que preciso.

1 de setembro de 2010

PRIMEIRO DE SETEMBRO ALVINEGRO


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"Vamos, garotão, capricha que o placar não é teu. Eu faço fé nesta cabecinha, garotão Zé Maria!

Está autorizado, vai chover lá dentro da boca da botija. Barreira com dois homens. Correndo pro pedaço Zé Maria, confusão na boca do gol, tentou Basílio de cabeça, volta pra Vaguinho, chuta, na trave, tentou Vladimir, bateu no zagueiro, entrou Basílio e que goooooooooooool! 

Coringão na frente, olha o espetáculo, olha a emoção e a motivação! Olha a festa do Brasil! 

Você enche de lágrimas os olhos deste povo, você enche de felicidade o coração desta gente, Corinthians! 

O grito sufocado de um povo, o grito do fundo do coração de um torcedor, depois de 20 anos a Fiel está explodindo. 22, 23, numa centena de anos, na cabeça do povo, tumultuando o meu povo, o Corinthians vira a explosão, vira o maior espetáculo no território brasileiro. 

Você acima de tudo é a alma deste povo, Corinthians!

Você freia o funcionamento normal da razão: só deixamos fluir a emoção, a gente vai se envolvendo….vendo…..volvendo…envolvendo, quando vê está envolvido, Corinthians! 

Hoje a cidade é do povo, tem que ter festa alvinegra! Hoje é o verdadeiro dia do povo, festa do povo!

Basílio no pedaço, Basílio, 37 do segundo tempo, doce mistério da vida este Corinthians, inexplicável Corinthians, que vai buscar alegria no fundo da alma do povo, numa arrancada dududududuperu do ataque alvinegro!”
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Parabéns pelo centenário, Sport Club Corinthians Paulista! Você é meu grande amor.