20 de setembro de 2011

U.S.S.R


Ontem, voltei para a União Soviética depois de vinte anos. No aeroporto, os guardas me revistaram, bruscamente, suspeitando de alguma coisa nuclear que pudesse atingir o país. Eu, senhor de idade, havia feito 64 anos na mesma semana. Agora era um pobre turista, estava lá apenas para beneficiar Mr. Kite, que clamava para que a população mundial visitasse a nação comunista.

Eu e minha esposa, Prudence, fomos direto para o Hotel que havíamos reservado em Moscou. No caminho, conhecemos um simpático doutor chamado Robert, que se ofereceu para carregar as bagagens até o quarto. Disse: “Garoto! Você vai carregar muito peso!”, mas ele não se importou.

Comentei com o doutor que estava livre como um pássaro, depois de muito trabalho. Nas últimas férias, havia viajado para a Noruega. Ficamos num vilarejo cheio de árvores. Me senti um filho da mãe natureza. Agora, queria um pouco mais de equalitarismo.

Subi as escadas com meu sapato velho marrom, entrei no quarto e fui direto para o banho. Estávamos exaustos depois da viagem. Uma lagartixa entrou pela janela do banheiro. Seria um bom sinal? Deitamos e dormimos, tarde da noite. O dia tinha sido cansativo.

No dia seguinte, acordamos tarde. Solfejei um “bom dia, bom dia” de má vontade. Não queria acordar. Um grupo entoava cantos do partido comunista pela rua e minha esposa apontava pela janela, admirada: “Amor, está passando! Você vai perder!”, eu repliquei: “Meu amor, todas as coisas vão passar. Fique aqui comigo, vai?”

Depois de tantos anos juntos, passamos a valorizar as pequenas coisas. Ela não me deixa pra baixo, dirige o meu carro, sabe que o amor não se vende. Preciso dela em minha vida. Sou um homem rico, mas preservo essas coisas. Enquanto pensava, ela trazia o chá na cama: “Está meio morno, amor”, disse. “A felicidade é meio morna”, respondi. Ela sorriu e saboreamos o chá juntos. Assim, me senti reeguendo as fronteiras do império russo.

Reconstrução e estabilidade.

Leon Trótski

18 de setembro de 2011

POINT OF VIEW


As novas cordas estão soltas. As velhas, com folga, estão no lugar. O chá está quente, não tão ardente como gosto. Preciso de pimenta, da boa, mexicana, daquelas que não vendem aqui, para temperar meus grãos. A cerveja, de tanta, toda semana, já não sinto descer. Andar é sempre suficiente, devo dizer. Quanto mais, melhor. Virou gosto.

O coração parece ciência exata. Os critérios se encaixam perfeitamente. Expectativa, segurança, imagem, poder, conforto. Estamos reafirmando esses valores sem deixar muitas lições. Tentamos respeitar uns aos outros (ainda que de maneira agressiva). Agora entendo, mas não me encaixo (nem faço questão).

Deixo as músicas se misturarem. Novas fontes entram pelos ouvidos como água que lava o pó seco do quintal. Meu estômago reclama no fim do dia. Fico calmo, faço um agrado, melhoro o humor. Quero a paz indolor, daquela que não precisamos ter medo de perder. Aliás, não há nada a perder: lá fora tem sol, gente, recursos, afeto, risadas...

Sou nômade de chegar sem querer partir. Continuo me mudando, mesmo assim. Quando acontece, me quebro. Calos de colágeno se formam, mais sólidos. Quantos se formarão até endurecer por completo? Tal pragmatismo não deixa enlouquecer. Hora de aproveitar essa solidez pra edificar algo.

Tanto calo trás ordem no recinto.

13 de setembro de 2011

DANCING DAYS


# Quando saiu o Windows 95, em 1995, o mundo ficou boquiaberto. Era como se Messias descesse arrastado por anjos em formato de memória RAM e mostrasse ao mundo as táboas da lei, compatível com qualquer IBM PC. O grande aperfeiçoamento desse OS foi orientar a usabilidade para o conceito de multi-task, ou seja, rodar vários softwares ao mesmo tempo. Hoje, em 2011, o conceito de multi-task já está nos nossos celulares e NA NOSSA VIDA. A pergunta que faço é: nosso corpo e cérebro são compatíveis com esse conceito? Confesso que as vezes fico meio maluco com dezenas de abas mentais pensando em tudo ao mesmo tempo. É só pensar que nossos pais, há uns 30 anos atrás, não precisavam processar essa calamidade toda de informação. Acho isso ótimo: exercita a mente, amadurece nossa árvore de decisões, expande os pensamentos, mas até qual ponto é saudável? Sinto que causa certo desequilíbrio (principalmente nas noites de sono e no meu estômago, pobrecito).

# Estamos em Setembro e o ano está tão cheio de atividades que ainda não me situei direito. Desde os pequenos rituais que faço antes de sair de casa até voltar, às vezes tenho a impressão que não existo neste planeta. Não sei se isso é um bom sinal. Sinto que meus projetos no trabalho estão caminhando como quero, cheios de identidade própria, ao passo que a rotina de acordar, ir e vir faz me quase voar de mim mesmo. Será sintoma das multi tarefas da vida?

# Estou bem afinado com a 7a temporada de House. No início, aquele romance todo com a Cuddy num clima de "agora vai". Depois de um tempo de flores e mel, House descobre que a energia que ele gasta para equalizar a relação o torna um médico pior. Depois, período estável, demonstrações públicas de afeto, laços fortes e conciliação de diferenças. Depois, fim, tristeza profunda, entressafra afetiva, coma alcoólico e um suícidio forjado num salto da janela do hotel para cair na piscina. Festa. Depois, enfia o carro na casa da Cuddy depois que flagra ela com outro cara, pede uma caipirinha na praia e anda em direção ao pôr do sol com "Got Nuffin" do Spoon de trilha. Enfiar o carro na casa de alguém é desnecessário, até porque não tenho motivos para tal, pelo contrário. House tinha, e nós estamos alinhadíssimos rumo a oitava temporada (pelo menos já tenho um teaser do que pode ser).

New York, Friday, August, 4th - 1966 - midnight - 4:00 A.M