5 de junho de 2011

A INEVITÁVEL VONTADE DE VIVER


Despretenciosamente, o pequeno suricate sai do ventre da mãe. Caminha, tropeça e corre desajeitado para a compania dos irmãos. Percebe, em sua naturalidade, que sente coisas que não quer sentir: fome, frio, sede, solidão. Olha para a sua mãe sem um ponto fixo, pede com os olhos remoídos para não sentir o que está sentindo. Sua mãe percebe naqueles olhos o que seu filhote precisa, e trata logo de suprí-lo antes que seja tarde demais.

Com o passar das estações, o pequeno filhote já não é tão pequeno e sua mãe já não é tão atenciosa, pois falta-lhe energia. Seus irmãos se dispersam e precisam sobreviver, cada um ao seu modo. O pequeno suricate se vê só, mas agora já sabe como afastar seus sentimentos indesejados. Aprendeu a comer, aprendeu a viver.

Este animalzinho, em suas limitações físicas, não é um grande predador, mas é um mamífero simpático. Poderia ser mais intimidador e eficiente para abater suas presas, mas ignora essa cobiça por seus colegas irracionais mais fortes. Sua própria irracionalidade faz com que não sinta inveja. O suricate tem o maior travesseiro intelectual que todos nós, humanos, gostaríamos de ter: a paz de conviver com nossas características do jeito que são.

O nosso aventureiro sabe como o mundo pode ser ameaçador, cruel, belo e vistoso ao mesmo tempo. Naturalmente, ele aproveita para relaxar quando sente o calor do sol, foge quando se sente ameaçado e se refresca quando sente a chuva em seus pêlos ralos. Sempre há o risco de ficar desidratado, morrer de fome ou virar comida de leão, mas nem por isso ele muda sua feição. O suricate é previsível, sereno e pouco ameaçador, mas sabe exatamente quem é. Não esconde isso de ninguém.

Sábios são os suricates.