3 de fevereiro de 2009

FAÍSCA


Toca um som pra mim?

Daqueles de arrebatar e fazer tudo explodir?

Toca aquela que te coloca numa dimensão obscura e te leva desse lugar?

Sim. Eu vou tocar.

Para você e para todas essas almas apodrecidas ansiosas por algum momento de ressurreição.

Vou tocar para aquelas frustradas, derrotadas por suas próprias expectativas.

Vou tocar para as vadias que me deixaram pra baixo.

Vou tocar para os indecisos encontrem as respostas.

Vou tocar com força e devastação, para varrer o amor deste lugar.

Para impregnar o ódio e deixar fluir a agonia.

E depois, este lugar será vazio.

Nos cantos dessa estrutura estará registrado os clamores perfeitos e os gritos de desespero.

E os morimbundos voltarão para casa, encharcados de suor.

Chegarão aos redutos marcados pela infelicidade latente.

Adormecerão aos barulhos sincronizados de alguns caras que inquietaram os sensores nervosos.

É melhor que tudo desapareça.

2 de fevereiro de 2009

AS REGRAS NÃO ME CONHECEM


Aproveitando o post anterior, já traduzi essa também.

Apesar de ter achado outras traduções na net, fiz essa ao meu modo. Fez mais sentido pra mim.

Tudo a ver com Christopher McCandless, o garoto ianque que ignora a sociedade e ruma para lugar nenhum em busca de isolamento e descoberta de sua própria natureza.

( PS: Sua fabulosa escapada que causa graande inveja neste pobre blogueiro. )

Quem sabe um dia a minha inveja não se transforme em alguma atitude perdidamente maluca ( ou não )?

A atitude de Christopher, na verdade, foi um grande ato de responsabilidade com suas próprias crenças, abstraindo-se de qualquer coisa mundana em prol de suas próprias reflexões, inspiradas por Thoreau, Tolstói e Jack London para, finalmente, sentir-se vivo de verdade, como diz a canção abaixo.

Destaque para os belíssimos dedilhados que fecham a obra prima que é a trilha do filme "Into the Wild" ( que conta a história de Christopher ), composta totalmente por Eddie Vedder.

O disco ainda conta com outras preciosidades como "No Ceiling" e "Society".



"GARANTIDO"

Ficar de joelhos não é maneira de ser livre
Levantando um copo vazio, me pergunto silenciosamente:
Todos meus destinos aceitarão aquele que sou?

Então posso respirar.

Círculos que crescem e engolem pessoas inteiras
Em metade da vida, dizem 'boa noite' para esposas que nunca irão conhecer
Uma mente cheia de questões, e um professor em minha alma

E assim vai.

Não chegue perto ou irei embora.
Segurando-me como a gravidade em lugares que puxam.
Se alguma vez houve alguém que me manteria em casa

Seria você.

Todos com quem cruzo estão em gaiolas compradas.
Pensam de mim e em meus vacilos, mas nunca fui quem eles pensam.
Tenho minhas indignações, mas sou puro em todos os pensamentos.

Eu estou vivo.

Vento em meus cabelos, me sinto parte de todos os lugares.
Sob meu ser há um caminho que desapareceu.
Tarde da noite eu ouço as árvores que cantam para os mortos.

Sobrecarga.

Deixe-me comigo enquanto encontro uma maneira de ser.
Considere-me um satélite sempre orbitando.
Eu conheço todas as regras, mas as regras não me conhecem.

Garantido.

A RAINHA DO SUPERMERCADO

Eu mesmo traduzi essa sonzera do novo disco do Bruce Springsteen ( não achei nenhuma tradução na net )

A melodia é ótima. É uma das minhas favoritas do disco.

A letra não tem nada de especial, mas me impressiona a riquesa de detalhes sobre o amor não correspondido por uma caixa de supermercado.

Aos 17 anos, recém-empregado, me apaixonei pela caixa do restaurante que almoçava todos os dias. ( E era por isso que almoçava lá todos os dias ).

Entregava bilhetinhos apaixonados junto da grana do almoço, mas obviamente ela nunca me deu bola.

Espero que o inglês deste aqui seja bom o suficiente para passar o tipo de sentimento que o Bruce também quis passar.



Há um mundo maravilhoso que todos vocês desejam
E tudo que vocês esperam está na ponta dos dedos
Onde o saboroso sabor da vida está em seus lábios

Onde prateleiras e prateleiras de sonhos te esperam
Uma promessa bacana de êxtase preenche o ar
E no fim de cada dia de trabalho ela está lá, esperando

Estou apaixonado pela rainha do supermercado
Como um céu de tarde que se torna azul
Um sonho espera na prateleira número 2.

Com meu carrinho de compras, me movo com o coração
Num um oceano de idiotas tão empolgados e desatentos
Que estão na presença de algo lindo e raro

O modo como ela se move por trás do caixa
Por baixo de seu avental branco, seu sonho permanece nela.
Ela empacota as compras com olhos tão cansados!
( E com certeza não é observada. )

Estou apaixonado pela rainha do supermercado
Não há nada que possa dizer
Toda noite pego minhas compras e vou embora

Guiado pelos deuses acima
Toda noite eu rezo por força para lhe dizer
Como eu a amo, amo, amo, amo tanto!

Entro na fila do caixa
Por um momento os olhos dela encontram os meus
E eu estou levantado, levantado, levantado, levantado!

Estou apaixonado pela rainha do supermercado
Enquanto o boné da empresa encobre seus cabelos
Nada pode esconder a beleza que ali aguarda

Estou apaixonado pela rainha do supermercado

Enquanto levo minhas compras para o carro
Me viro por um momento e pego um sorriso
Que sopra toda aquela merda de lugar para além

1 de fevereiro de 2009

O AMOR NÃO ACABA


O amor acaba? Ele disse. Numa cozinha, numa terça-feira, depois do jantar e das conversas. Nos quartos, dentro do carro, palco de muitas risadas e reflexões. Existem dúvidas. Ele não volta? Não deixa rastro? Não renasce? Volta.

Nos almoços de domingo, lá estava ela, se fazendo ouvir por seus risos, por seu carinho, na poeira suspensa, na revolta da memória inconformada. Uma lembrança. No silêncio da casa, lá vem, com um quase desespero, e pensando nos planos perdidos...A casa: palco de uma história de amor, com beijos e risos, com discussões naturais...

Onde ele se escondeu? E, pior, por quê? Na insônia, o amor cai como uma tonelada de lápide, e se eu tivesse feito diferente, se eu tivesse sido paciente, e se eu tivesse insistido, suportado, indicado, transformado, reagido, escutado, abraçado? Porque aquele sabor era o preferido dela, aquele doce era o preferido dela, aquele lugar era o preferido dela, aquela casa, aquele bairro, aquele clima, aquele mês, aquela temperatura, aquelas tardes de domingo e aquelas noites lendo seus livros.

Na cozinha, quantas saudades daqueles segundos de silêncio presos numa caixa blindada.

Saudades é amor. Não tem saudades do que não se ama. Ou amou.

O amor não acaba, e se sonho com ela, meu dia está feito.

O amor não pode acabar, porque sem ela ou sem a esperança de revê-la, até a esperança de tê-la de volta, nossa vida não tem fim. Ela foi uma trégua na nossa guerra. Amá-la nos faz bem. Mesmo que ela não possa mais nos dizer. Amamos amá-la. Continuaremos amando desde sempre. Passamos anos amando como se não acabasse. Ficaremos anos amando mesmo que não volte.

O amor não acaba, muda. O amor não será, é. O amor está. Foi. Nas conversas e nos problemas que resolvemos juntos. Amor. O não-amor é vazio. Nas minhas mãos frias aquecidas pelas suas. Eu te amava quando você me beijava incessantemente. Quando chegava e via seu sorriso espontâneo e sincero. Quando você se preocupava com meus planos. E, do nada, você me dizia, como tanta alegria e verdade: Eu te amo!

O amor acabou quando você se foi? Não. Sentiremos falta das suas palavras, do cheiro do seu travesseiro, do seu feijão fresquinho, dos dias e noites assistindo televisão, das comidas e dos abraços que nos entornavam. De atravessar as avenidas, de te perguntar dos seus livros, dos seus gritos e risadas histéricas pela casa. Acaba? Diz que acaba!

Como acaba? Não acaba. Repete. Falei. Não acaba. Pode virar amor de todo o jeito. Pode vir em muitas embalagens e tamanhos. Só tenho uma certeza. Tem o amor e o nada. Ah, mais uma coisa. Antes que esqueçamos. O amor não acaba. Aumenta. Desculpe. Se acabar, não é amor.

( Adaptado de coluna homônima de Marcelo Rubens Paiva para aquela que hoje está em todos os lugares, me guiando. )