24 de fevereiro de 2012

AMOR


às vezes, precisamos de uma firme sensação de isolamento, sem que ninguém contraste com nossos universos já tão complexos e difíceis de lidar. às vezes, nos entregamos a simplicidade de construir pontes ao invés de paredes, abandonamos nossas convicções fiéis e nos abrimos a abismos de pessoas que mal conhecemos. às vezes sondamos pessoas como um ato pouco nobre de estabelecer critérios e preenchê-los, numa checagem mutável, imatura, instintiva e, muitas vezes, continuamos sozinhos abraçando a causa do auto controle, nos transformando em seres densos dentro de buracos fundos protegidos pela própria satisfação.

a intersecção entre uma ou mais pessoas é um grande projeto de engenharia, onde as partes vão se encaixando, os lastros vão se ajustando, flexíveis, para que toda a estrutura continue forte em instantes tempestuosos. a natureza divide, multiplica e o homem (grande em valor) deve unir, apesar de tudo, em primeira instância, seus próprios pedaços para identificar no outro verdadeiras partes de si. do resto, o amor cuida, sem medo de dar certo.

14 de fevereiro de 2012

KEEP YOUR SOUL CLEAN


Chegava todo dia depois das 19h00, quando o escritório já estava vazio. Recolhia os restos de todo mundo e pegou amizade comigo, não sei porque. Limpava o banheiro, tragava diariamente dos nossos piores odores, falava difícil, meio atrasado, meio gaguejando, mas sabia falar.

Andava pelos corredores como um invisível, suspirando a indiferença das mesas e cadeiras. Virou meu amigo porque torcemos para o mesmo time, e isso nos aproximou.

Hoje, me trouxe um jornal, velho, amarelado, dobrado no bolso como uma preciosidade, para me mostrar uma foto dele no jornal com a camisa desse time que nos uniu. Do lado da foto, uma matéria bem mal escrita. Coisa humilde, mesmo. O jornal era de 1999.

Um sorriso, "amanhã tem jogo, hein?", um cumprimento entusiasmado com as mãos sujas que nunca consegui evitar, mesmo que sujasse as minhas. Não é a primeira vez que acontece. Depois de tantos desvios, eis uma época em que a humildade impera sublime, tracejando em silêncio a linha tênue entre a inteligência e a babaquisse.