1 de fevereiro de 2009

O AMOR NÃO ACABA


O amor acaba? Ele disse. Numa cozinha, numa terça-feira, depois do jantar e das conversas. Nos quartos, dentro do carro, palco de muitas risadas e reflexões. Existem dúvidas. Ele não volta? Não deixa rastro? Não renasce? Volta.

Nos almoços de domingo, lá estava ela, se fazendo ouvir por seus risos, por seu carinho, na poeira suspensa, na revolta da memória inconformada. Uma lembrança. No silêncio da casa, lá vem, com um quase desespero, e pensando nos planos perdidos...A casa: palco de uma história de amor, com beijos e risos, com discussões naturais...

Onde ele se escondeu? E, pior, por quê? Na insônia, o amor cai como uma tonelada de lápide, e se eu tivesse feito diferente, se eu tivesse sido paciente, e se eu tivesse insistido, suportado, indicado, transformado, reagido, escutado, abraçado? Porque aquele sabor era o preferido dela, aquele doce era o preferido dela, aquele lugar era o preferido dela, aquela casa, aquele bairro, aquele clima, aquele mês, aquela temperatura, aquelas tardes de domingo e aquelas noites lendo seus livros.

Na cozinha, quantas saudades daqueles segundos de silêncio presos numa caixa blindada.

Saudades é amor. Não tem saudades do que não se ama. Ou amou.

O amor não acaba, e se sonho com ela, meu dia está feito.

O amor não pode acabar, porque sem ela ou sem a esperança de revê-la, até a esperança de tê-la de volta, nossa vida não tem fim. Ela foi uma trégua na nossa guerra. Amá-la nos faz bem. Mesmo que ela não possa mais nos dizer. Amamos amá-la. Continuaremos amando desde sempre. Passamos anos amando como se não acabasse. Ficaremos anos amando mesmo que não volte.

O amor não acaba, muda. O amor não será, é. O amor está. Foi. Nas conversas e nos problemas que resolvemos juntos. Amor. O não-amor é vazio. Nas minhas mãos frias aquecidas pelas suas. Eu te amava quando você me beijava incessantemente. Quando chegava e via seu sorriso espontâneo e sincero. Quando você se preocupava com meus planos. E, do nada, você me dizia, como tanta alegria e verdade: Eu te amo!

O amor acabou quando você se foi? Não. Sentiremos falta das suas palavras, do cheiro do seu travesseiro, do seu feijão fresquinho, dos dias e noites assistindo televisão, das comidas e dos abraços que nos entornavam. De atravessar as avenidas, de te perguntar dos seus livros, dos seus gritos e risadas histéricas pela casa. Acaba? Diz que acaba!

Como acaba? Não acaba. Repete. Falei. Não acaba. Pode virar amor de todo o jeito. Pode vir em muitas embalagens e tamanhos. Só tenho uma certeza. Tem o amor e o nada. Ah, mais uma coisa. Antes que esqueçamos. O amor não acaba. Aumenta. Desculpe. Se acabar, não é amor.

( Adaptado de coluna homônima de Marcelo Rubens Paiva para aquela que hoje está em todos os lugares, me guiando. )

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