22 de fevereiro de 2010

ANIMAIS

E então tentamos explicar o inexplicável: essa força quase selvagem que nos move por aí. E a gente nem sabe de onde vem. Tudo para, basicamente, demarcarmos o nosso território, construírmos nossas armas, saírmos por aí: hostis, egoístas, em busca de abrigo, subsistência, boa companhia, querendo partilhar idéias para conquistar aliados. E ainda: gritamos como aborígenes quando as coisas vão mal, e, às vezes, os gritos vem de dentro, se espalham em meio às músicas e se funde ao silêncio do quarto.

"There's someone in my head, but it's not me": Constantemente ouvimos vozes proclamando competição, o cada um por si, o agora, a posse, a negação do fim, um ponto de vista limitado sobre viver plenamente. Tudo isso nos invade como uma doença incurável: uma contrariedade constante que incomoda como uma abelha insistente que pousa em nossas consciências nativas e originais.

Sim, ainda há esperança: Já provamos que podemos conviver em sociedade, mesmo sendo animais com instintos primários exarcebados. Podemos construir coisas que beneficiem à todos, ainda que seja através de escambos e trocas desreguladas.

Você acha que ser comparado a um animal é um insulto? Então olhe para baixo: mãos de macaco, pêlos, crânio, ossos, tudo biologicamente evoluído e projetado para ser um animal que você acha que não é. Você não percebe, claro, porque tem escovas, barbeadores, roupas e artefatos que negam sua própria natureza.

Olhe em volta e veja: outros macacos, caminhando, se comunicando. Percebe como isso é deprimente e maravilhoso ao mesmo tempo? Não estranhe que ética, bem comum, meio-ambiente, futuro e amor sejam conceitos complexos demais hoje em dia, grandes demais para serem exercitados.

Nós, macacos, estamos só aprendendo a lidar com isso, ou dando alguns passos para trás como em um período de transição: descobrindo lentamente o nosso verdadeiro lugar no mundo, para quê viemos e para onde vamos!

Ainda é difícil pra muita gente aceitar que somos simples animais, sem 'uma missão' ou uma tarefa divina que nos foi delegada subitamente por um ser superior. Somos audaciosos e ambiciosos demais. Queremos sintonizar nossa pobre natureza espelhando uma superioridade humana que não existe! Ainda é mais fácil entender a existência se colocando como um animal teimoso, que tem muitas e muitas gerações pela frente para entender porque essas coisas nos faz entrar em colapso.

A inteligência ainda é uma ferramenta distorcida, imatura e mal utilizada. Os sentimentos, então, nem se fala. Provavelmente ainda se baseiam em puro instinto, apesar das derivações emotivas que ainda estamos desenvolvendo. 

Alguns macacos já nos levaram ao limite e outros continuam nos levando, mas a grande maioria desaprende fácil, se vende fácil, é manipulável e se acomoda. Não há nada de errado nisso. Os outros animais também são assim, nada complexos, totalmente previsíveis: se defendem ferozmente de ameaças, se protegem, atacam quando julgam necessário. Hoje descobrimos novas e complexas maneiras de fazer isso (dotadas de poder financeiro ou coletivo) para diminuir as chances de dar errado, mesmo sabendo que alguns venenos funcionam, outros não. E ainda, na maioria das vezes, respondemos aos avisos do próprio corpo: fome, sede, calor, frio. A capacidade de prever problemas além dos nossos sentidos ainda é pouco desenvolvida.

De qualquer forma, estamos indo até longe demais para um bando de macacos que tem só alguns milhares de anos de evolução.  Percebi que, para entender algumas coisas, não vale a pena se munir de inteligência. Uma dose de 'Animal Planet' pode ser uma saída para muitas questões que nos afogam atualmente.

E assim caminha este animalzinho que vos escreve, tentando projetos que não vão muito além do que escrevi. Alguns, inclusive, não fazem o menor sentido. Mas precisam ser feitos por um só motivo: tornar minha sobrevivência mais fácil para lidar com o tédio de uma maneira mais conveniente.

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