2 de outubro de 2011

INFÂNCIA REPRIMIDA

Nesse dia dormi mal e chorei, mas tinha um pato de rodas.

Longe de ter tido uma infância reprimida. Brincava por horas com carrinhos. Minha mãe saía e, se me deixasse em casa com o fone no ouvido (fones enormes), ficava quietinho até ela chegar. Já amava música quando criança e até hoje fico decorando letras.

Andava de bicicleta no quintal, na rua... tentava fazer cavalo de pau, mas acho que nunca consegui. Andava de triciclo também. Sempre achei demais o vento na cara, dirigir, fazer coisas.. Um dia passei horas pegando plantas e espremendo num copo, a meleca verde era esquisita, mas estava descobrindo o mundo de forma simples.

De triciclo na garagem onde meu pai deixava seu Passat.

Via Chaves e outros desenhos. Adorava a presença da minha mãe, na sala, arrumando as coisas. Adorava a limpeza dela, os móveis cheirosos. Meu pai chegava às 18h. O cheiro de gasolina do Passat era gostoso, ficava vendo o carro entrar pela janela. Ele alugava os filmes do Charlie Brown pra mim. Uma vez alugou Akira, não gostei muito. (Até porque Akira é mais adulto). Jogávamos Space Invaders no Atari: "Vou acabar com a raça desses monstros!". Depois Super Mario World, depois Mortal Kombat. Ganhei meu Super Nintendo no dia 8/12/1993. Foi absurdo, fiquei contente pra caralho.

Adorava desenhar de tudo, principalmente carros. Era o melhor desenhista da sala, talvez virasse profissão. Um amigo vivia trocando os desenhos dele pelos meus. Eu trocava porque não estava nem aí, "eram só desenhos". As professoras pagavam pau como se aquilo fosse extraordinário para um menino da minha idade. Meu pai também curtia. Tenho os rabiscos até hoje numa pasta.

Sentava na escada e desenhava. Isso se repetia quase toda tarde.

Aos sete, participei de um concurso com mil crianças e ganhei. Primeiro lugar geral. O prêmio foi um Dynavision (com revólver e um jogo de matar patos). Subi no palco e agradeci. E fui aplaudido por todo mundo sem saber porquê. "Era só um desenho". Meus pais ficaram super entusiasmados. O ex chefe dele escreveu no verso: "Luiz, Parabéns! Invista nesse garoto!".

Depois me mudei e o resto já escrevi aqui. Lembro como me sentia, rolava uma ansiedade enorme de brincar, jogar, sair... na verdade, era uma ânsia de liberdade que hoje entendo melhor, sinto de outro jeito e faço questão de preservar.  

No quintal, andava horas e horas em círculos. Adorava essa bike!

Quando era criança, fiz coisas incríveis (modéstia parte), mas nunca precisei de aplausos (e não porque era uma criança prodígio, pelo contrário, era normal e não entendia o sentido de ser reconhecido). Crianças, em geral fazem coisas incríveis, e nós, como adultos, temos a responsabilidade de dosar esse brilho e ao mesmo tempo incentivá-lo, e não enquadrá-lo em padrões mesquinhos como costumamos fazer. Precisamos manter essa dedicação despretenciosa na fase adulta.

Olhar pra trás é legal, te dá uma visão do que realmente importa. Se tivesse de tirar uma lição do que ser criança significa, diria que é essa liberdade de fazer coisas sem o peso do sucesso, sem louros, sem essa meritocracia que gostamos de alimentar. E viva a vida!

4 comentários:

  1. Existem coisas (momentos) que não voltam, podemos fazer tudo exatamente igual e não será a mesma coisa. Mas vale o esforço porque mesmo que não seja igual já é mais feliz que essa tal vida adulta.

    ResponderExcluir
  2. É eu me lembro de alguns desenhos... não tão antigos. Lembro de uma vez que a nossa escola foi convidada a pintar um painel de fim de ano no Carrefour ali do shop. Interlagos. E o escolhido da nossa sala foi o Mariel. sem concurso nem nada, escolhido por unanimidade, afinal, não queriamos passar vergonha né.

    Abs meu caro!

    ResponderExcluir
  3. Torço pra vc ser feliz, seja lá como for ;)
    Bjo

    ResponderExcluir
  4. é isso aê, Mariel!
    Viver a vida, educar crianças, sem jogar nelas o peso de uma responsabilidade mesquinha que nós, adultos, tentamos colocar nelas...

    Acho que a infância costuma ser feliz por isso. Não importa o que vc faz, se faz incrivelmente bem, ou se faz mais ou menos. Quando vc é criança, tudo faz sentido.

    ResponderExcluir