5 de outubro de 2011

THE REVOLUTION IS HERE


Fui ao cinema em 1999 sozinho para ver "Piratas do Vale do Silício".

Tinha 13 anos. Desmontava e formatava meu computador, fazia sitezinhos em HTML + Javascript, fuçava no Office 97, brincava no VB 4 e outras quinquilharias. Passava horas no computador (mesmo sem internet). Estava acostumado a ir na Santa Ifigênia e ver aquelas CPUs brancas rodando Windows 95.

Um dia, vi um computador em neon com tudo embutido no monitor e me causou certo impacto, mas só entendi o real significado daquilo depois daquela sessão no cinema. Anos depois vi o filme de novo e não era memória afetiva: a história da Apple foi extraordinária desde o começo (e Steve Jobs um baita chato perfeccionista obstinado).

O cara morreu e a mídia vai dizer um monte de coisas que já sabemos, mas não tudo.

Tecnicamente, Steve nunca foi um gênio, mas teimava em compreender as reais necessidades das pessoas para adequá-las aos seus produtos. Os projetos mais complexos do mundo são na área de software, e é muito difícil encontrar profissionais que consigam se aprofundar em tudo que envolve essa engenharia: usabilidade, pessoas, custo, timing, design, divulgação, plataforma, hardware, etc.

Steve Jobs foi referência em tecnologia nos últimos 35 anos porque soube lidar com tudo isso de forma obstinada, e com extrema atenção aos detalhes. Existem histórias que provam isso: quem ligaria para alguém numa manhã de um domingo para dizer que a tonalidade de um ícone está incorreta? quem se preocupa tanto com as embalagens quanto com o produto em si?

Nós sabemos que no ambiente de negócios, onde envolve dinheiro e interesses de todos os lados, ninguém passa a mão na cabeça de ninguém. Você simplesmente precisa provar que é bom o tempo inteiro.

Steve Jobs não foi mimado nesse sentido: trabalhou duro com Steve Wozniak para tornar a Apple um sucesso, entrou numa egotrip e foi chutado deliberadamente pelo ex-presidente da Pepsi (sic), fundou a Next, constriu as bases do Mac OSX, voltou para a Apple, tirou a empresa da bancarrota, deu tiros certeiros com produtos diferenciados (iMac, iPod, MacBookAir, iPodTouch, iPhone, iPad), transformou mercados (smartphones, indústria fonográfica), criou mercados (tablets, PCs), transformou a cara de uma geração inteira e OCEANOAZULOU TUDO.

A grande inspiração pra mim foi a elevação da tecnologia ao estado de arte. Não basta ser útil ou necessário: as pessoas precisam querer usar algo com os olhos brilhando (a mesma sensação que temos quando ouvimos música, por exemplo).

Steve nos livrou de empresários coxinhas, telas monótonas, botões quadrados, blocos cinzas e tempo gasto com interfaces pouco intuitivas. Na parte de usabilidade, chutou traseiros de Google e Microsoft sem o menor pudor. Todas as aplicações móveis e sistema operacionais bonitinhos e legais de mexer que vemos hoje são tendências que a Apple criou através do Lion e do IOS. Steve protegeu a combinação hardware-software construíndo seu próprio sistema para sua própria máquina e hoje os computadores pessoais da Apple dão um banho na concorrência em quase todos os aspectos, deixando o Windows (e suas DLL's arcaicas) parecendo firmwares chineses.

(Nada contra a Microsoft. Meu computador é um PC e amo o Windows XP, mas...)

Como se não bastasse, Steve conseguiu com que seus produtos fosses idolatrados e desejados por todo mundo. Pessoas vendem um rim, literalmente, para comprar um iPad.

Steve, obrigado por me devolver a música e podê-la ouvir quando quiser, onde quiser, de um jeito tranquilo e, principalmente, por tornar minha profissão apaixonante. Sei que hoje posso encarar tecnologia como uma ciência criativa e ninguém vai achar ruim. Mudou minha vida. Hoje perdi uma referência, mas nunca a inspiração. Bom descanso.

Deixo aqui três pílulas históricas:

O comercial da Apple no Superball de 1984, com direção de Ridley Scott. Publicidade em tecnologia, capítulo 1.



A apresentação do Macintosh, 1984.



O discurso em Stanford, 2005.

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