29 de março de 2012

PORTO DE HAMBURGO


volto sentado acima das hélices, o barulho de madeira causa náuseas
o chão líquido, escuro, azul e flutuante me abriga durante meses a fio
tenho mulher e filhos, vejo o porto, lotes de comida para matar a fome
resignado, mas ansioso, vejo garotas nos esperando para o nosso alívio

"não sei porque levei certo tempo para abandonar suas frases
nem percebi quando te esqueci, o que deveria ficar ficou
não sei porque foi necessário esse tempo para me desapegar de forma indolor
a realidade despida de qualquer sentimento ilusório finalmente me aliviou"

um espelho enorme com moldura de vigo, "nossos homens estão voltando"
que deus me perdoe, mas preciso desses meninos, deste dinheiro
que diferença fará uma ou outra meia calça ou saiote? deveria estar casando
resignada, mas aflita, vejo garotos nos procurando, sorrindo, sedentos

"a realidade e a verdade são irmãs, procurei uma para chegar a outra
o sofrimento impulsiona essa busca que me levou a lucidez momentânea
as lições da percepção exata das coisas mudam a nossa vida
as noites pelas calçadas me ensinam mais do que qualquer coisa"

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