4 de junho de 2012

SOU LIVRE (MAS NÃO SEI O QUE FAZER)


Nós passamos a vida inteira tentando ser livres de alguma maneira. Livres de juros, mensalidades, prestações, parcelas. Nos livramos de roupas velhas, cascas de banana e lâmpadas queimadas. Nos livramos de pessoas que já amamos. Nos livramos de nós mesmos: excrementos, suores, líquidos e secreções que dão lugar à novos alimentos (que geram um novo ciclo metabólico). Nos livramos do útero da mãe (primeiro passo para a liberdade umbilical). Enfim, queremos ser livres, né?

Não é incomum ver a associação de muitos serviços com a liberdade, em todos os segmentos: internet ilimitada, rodízios, open bar, aquele remédio para hemorróidas que faz as pessoas sentarem sem incômodo (livres), aqueles absorventes que deixam as meninas na praia sem constrangimento (livres), o horário flexível nas empresas, a computação em nuvem, os sites que comparam preços...tudo isso livra a cara (fato), mas transforma a liberdade em algo anarquista, uma motivação vital. Adquirir esses serviços é como um passaporte da alegria, uma pulseirinha vip, uns motivos a menos para se preocupar, a saída do purgatório, uma condicional das prisões cotidianas. "As suas privações de hoje garantirão a sua liberdade amanhã", ouvi um dia.

A liberdade não é algo absoluto. Podemos ser livres financeiramente, mas adeptos de uma religião que nos restringe (o que é bom em muitos casos) OU inventamos nossas próprias doutrinas MAS seja terrena ou celestial, ambas buscam a liberdade. Podemos ser empresários, fazer as coisas do nosso jeito, porém, nossa (enorme) responsabilidade pode limitar a qualidade das nossas decisões. Somos seres limitados e não gostamos disso. Quando conseguimos ser um pouquinho livres, ficamos meio perdidos (tipo aquele sonho de infância 'mãe, quero ser um piloto de avião' mas não sabemos pilotar, aquela menina linda que você sempre quis, mas fica inseguro ao lado dela). A liberdade virou algo sei lá o quê (mas todo mundo diz que é legal). Perdeu o significado. Não sabemos lidar com a liberdade, céus.

Da próxima vez que tomar cerveja, farei um brinde à liberdade. Tomo cerveja nas horas vagas, perco a lucidez... Será que liberdade e lucidez brigaram na infância? Quem é a ovelha negra da família? Lucidez é a menina direita, Liberdade é a que foge de casa? Essa gostosa, perseguida, impossível. Acho que é uma menina simples, que às vezes volta pra jantar. Quando tem festa, ela sempre aparece. No dia em que morrer, façam um brinde à liberdade: algo que passamos a vida procurando, mas ela, em forma de morte, é que irá nos encontrar.

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