28 de maio de 2012

FUGA MAIOR QUE A PAIXÃO


Já falei de ciclos há uns dias atrás, mas como esses ciclos se encaixam no nosso contexto?

Dê valor para as coisas simples, seja feliz com o que você é, viva um dia de cada vez, livre-se das distrações, estabeleça metas, aproveite o presente, não tenha medo, divirta-se, coma o suficiente, tenha uma alimentação saudável, movimente-se, faça o que você quer, empreenda, transforme o mundo através de suas ações, seja produtivo, conheça melhor seus colegas...

De onde vem essa mudança de atitude? Temos uma necessidade estranha de demonstrar superioridade, demarcar território, levar vantagem... Nossa racionalidade abraça essas causas, recorre a essas fugas oriundas de algum fracasso escondido, de uma estagnação que queremos contrariar por meios materiais para atingir fins irreconhecíveis (talvez inexistentes).

Acho que um pedaço da resposta está nos fins (objetivos, projetos, motivações) e não nos meios (carro, casa, celular). O trabalho deve ser fruto de uma relação equilibrada entre paixão e sustento, mas nós invertemos a balança. Vivemos para além do básico, ostentamos o que não precisamos, queremos ser grandes por fora, mas somos desorientados por dentro (ou orientados para os meios). A verdade é não fomos educados para lidar com essa equação, logo, nossos sonhos baseiam-se em comparações e peças que cravam conceitos consumistas (e persuasivos) desde a infância...

Quando o consumo torna-se imperativo, caímos na mão de empresas boas em vender produtos que não existem, mentiras travestidas de necessidade. O Brasil de 2012 reflete muito esses descompassos entre rótulo, preço e benefício. O capitalismo dá espaço para essas estratégias, fazer o quê? Pagamos por coisas que não existem, mas devemos resistir. Não podemos deixar que entidades aleatórias assumam as rédeas da nossa vida. Estas mesmas empresas, apesar de tudo, também oferecem bons produtos a preços justos (e sobretudo necessários). A escolha é livre, o capitalismo não é muleta. 

Por outro lado, os fins nos mantém apaixonados pelo que fazemos e o resto se torna subjetivo. O problema é que sempre estamos sujeitos à distrações, promoções e coisas intensas (que nos faz esquecer que somos seres oscilantes e que a paciência é o combustível para as maiores conquistas - e não o contrário). Essa embriaguez nos desarma, e quando alguma merda acontece, encaramos como o fim do mundo, nos tornamos seres opacos e a paixão vai embora (quando na verdade as merdas acontecem, fazem parte da vida e precisamos lidar). Depois disso, a tendência é ser conservador, cauteloso, o sistema não dá margem para erros (seja para um cidadão ou para um pequeno empresário). O erro custa caro, o aprendizado não é incentivado... quantas idéias arrojadas transformam-se em caminhos pré determinados? Mas a vida quer da gente coragem, logo, podemos arriscar um tiro, não?

Por fim, podemos construir (sobre um modelo que limita, impõe, exige) outro onde as coisas são feitas à seu tempo, as opiniões podem ser revistas, a gentileza supera a racionalidade, a paciência supera a ansiedade, o respeito supera o ego (e sem precisar de muita coisa). Não podemos alimentar a existência finita com essa soberba que nos oferecem (e que joga contra cedendo créditos cujo quais não podemos arcar). Somos simples por natureza e podemos abafar essa necessidade predatória sem barbárie, com inteligência. Estamos numa condição intelectual em que o indivíduo já ficou pra trás, já temos tecnologia para garantir uma vida segura para todos. Não precisamos trocar uma ilusão por outra.

A paixão deve ser maior que a fuga.

Nenhum comentário:

Postar um comentário