29 de novembro de 2009

DISORDER

Não cabe mais ninguém em São Paulo. Isso não é uma opinião isolada. Estamos numa 'Mumbai' sem planejamento residencial e comercial desde sempre. Digo 'Mumbai' porque, ao contrário do que muitos pensam, São Paulo não é exatamente um pólo de pesquisa e desenvolvimento. São Paulo é uma enorme filial de tudo, que dança conforme as matrizes de países desenvolvidos. As empresas locais são sufocadas. As empresas daqui, em maioria, são centrais de produção, atendimento e distribuição, que, por script, são regidas por diretrizes das matrizes de lá. As pessoas também são regidas assim, pela vontade dos outros, pela vida dos outros, pelo sistema que os outros criam em benefício próprio.

Aqui, o trânsito de paralizar carros, pessoas, rodovias, de trancafiar a qualidade de vida em meios lotados e em quadrúpedes infláveis continua aumentando, descaradamente. Os metrôs e estações são como escadas rolantes de materiais humanos que sabem exatamente o que precisam fazer de segunda a sexta: trabalhar como pequenas engrenagens comuns, cinzentas e sólidas. Nos finais de semana, também sabem exatamente o que fazer: dormir, ver TV, comprar, dormir, ver TV, comprar, se entorpecer, ver TV, dormir e consumir: como um desabafo, como pagar por coisas que as façam parecer menos cinzentas, menos sólidas, mais próprias, particulares, personalizadas.

Ah, a solidão: os amigos sugam, os compromissos sugam, o círculo social se torna um liquidificador de tempo, a família, os parentes velhos por quem demonstramos afeto antes de morrer, os shows que nunca mais veremos, os favores que precisamos fazer sem visão de investimento, apenas por lealdade. As conversas, o conhecimento próprio, que como um parabrisa tira a sujeira da vista pra mostrar imundices da alma.

Dinheiro, o capitalismo que envolve tudo e todos numa teia de interesses. Porque nós, animais, iguais, burros, egoístas, estúpidos e cegos precisamos de coisas maiores, menores, diferentes, deformadas?

Somos ensinados a ser individuais o tempo inteiro, a ser mais competitivos, a superar os outros, a concorrer com os outros, a fazer o melhor de si pensando em si, a trabalhar não visando o bem comum. Aprendemos a ser narcisistas e individuais a vida inteira, como um curso intensivo natural. E nenhuma força política que favorece uma minoria pode ser quebrada pela coletividade partida em fragmentos individuais.

Somos diferentes entre si com necessidades essenciais iguais, e não uniformes com necessidades diferentes.

Dinheiro, recursos, vontades, desejos, amigos, parentes, saúde, trabalho, ensejos, tudo numa roda-gigante desregulada, oval, quadrada, enferrujada. Não quero ter filhos. Quero sofrer sozinho, sendo um habitante urbano, solitário, inserido no inferno invisível e indolor que nos cerca.

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