6 de outubro de 2010

DEPOIS DAS SEIS


Por Cinthia Montagner (@cinthiamtg) e Mariel Moura (@marielmoura)

Escadas da Cásper. Ladeiras da Augusta. Os ladrinhos paulistanos pretos e brancos tão famosos, hoje substituídos pelo liso concreto moderno. Os bons tempos se foram. As nuvens dos dias passados viraram abstrato, substrato de lágrimas. Os guichês, os bailes, as margaridas nascidas em anos vazios. As calçadas vazias. A cidade respira, invadida: perdeu a paulistanidade das praças, os cumprimentos singelos pela manhã, os passeios largos, as carícias das mesas e as ruas repletas de gentileza.

De todas as épocas, o que sobra é a garoa. A cidade vive desde sempre esse auge sem-identidade tão universal. As pessoas aqui não tem medo, revigoram o tempo inteiro o vigor de suas capacidades, redobram a coragem e se recolhem quando a alma está isolada após uma tempestade de nervos numa tarde pesada.

Aqui, os anos não existem: correm as semanas, as horas, os carros parados que cedo ou tarde insistimos em guiar. Lugar de gente fácil de convencer e comprar. Lugar de noites de inverno ardente, romances frios, corpos inquietos, mentes caladas e corações incertos guiados por motoristas ariscos em horário de pico.

A chuva bate na janela, os pingos emitem sons de sono, de cimento em pilhas que circundam a vida dos amantes silenciados nos quartos. Faz parte de todo habitante essas terras escondidas sob piche quente, ondulado, ora inferno, ora tapete.

Quem é de éssepê vive cercado de riqueza, adora a instantaneidade dos momentos, mas nunca estão satisfeitos. As almas se elevam à medida que o tempo passa e diminuem as parcelas, as doenças, os seguros e as mazelas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário