16 de agosto de 2011

JUÍZO DE VALOR


Um copo, depois de um esbarrão, voa seguindo sua rota gravitacional pré-definida até o chão para despedaçar-se. Sua trajetória só mudará se alguma mão amiga tentar evitar a tragédia doméstica. Se isso não acontecer, sobram os cacos, a pá e a vassoura para varrer depois. A colher também cai.

Os dois não caíram juntos, mas poderiam. Será que uma mão seria rápida o suficiente para salvar o copo e a colher ao mesmo tempo? Será que você conseguiria usar as duas mãos ao mesmo tempo? Será que conseguiria fixar um olhar no copo e outro na colher?

Se você não é um gênio privilegiado com reflexos extraterrestres, não conseguirá salvar os dois ao mesmo tempo. Se você é um ser minimamente inteligente, vai privilegiar salvar o copo. A colher é de metal, e mesmo que espalhe grãos de comida no chão, não vai ser tão barulhenta (e chata) quanto o copo despedaçado.

Ainda existe o risco de, ao tentar salvar o copo, você acabe esbarrando nele aplicando mais energia e velocidade na queda e, mesmo sem querer, isso pode fazer com que você fique procurando cacos de vidro no local por alguns meses, dada a violência do impacto.

E se você se cortar com o vidro? E se ficar de molho por uma semana em casa, sem poder trabalhar, com a mão enfaixada? Estamos falando de objetos simples, cotidianos, e leis previsíveis, como a da gravidade. E de eventuais probabilidades de um acidente caseiro que acontece milhões de vezes por aí.

Sim, esse post está soando como uma queda de maçã na cabeça, cheio de coisas bobas, mas, por incrível que pareça, escrevi cinco parágrafos de fatos a serem considerados sobre algo ridículo (sem muito esforço, diga-se).

E algo que anda me incomodando de verdade é o juízo de valor que a molecada dá para questões mais complexas. Um disco, uma obra de arte, uma PESSOA, hoje, pode ser taxada de forma binária, absoluta, mesmo que suas idéias sejam públicas, variadas, mutáveis, razoáveis: "Tal cara só fala bosta, é incapaz, não presta".

Caímos neste abismo moderno de tomar decisões rápidas e abrir a boca sem a profundidade suficiente para fazer um julgamento correto. E, diga-se: um julgamento justo, amplo, profundo, não exige necessariamente um sim ou um não. Podemos ressaltar características positivas e negativas e pronto. Vamos em frente.

Quando vejo a galera trollando de forma encarniçada nos botecos ou na internet, ou até mesmo elogiando de forma desproporcional, fico meio desarmado, desanimado.. ainda mais porque às vezes são meus amigos e sei que poderiam fazer bem melhor do que duas linhas de trollagem por esporte.

No fundo, essa nossa honestidade através das redes sociais acaba mostrando quem faz coisas legais, grandes e válidas, mesmo que nos incomode. É claro que essa exposição gera críticas para quem as realiza, mas se alguém faz algo que acredita de verdade, consequentemente está pronto para defender isso. E nós? Acho que, no fundo, nos sentimos pressionados por, muitas vezes, não conseguir transformar nossas idéias em algo prático quando comparado a quem vai lá, trabalha duro, estuda e consegue.

Acho essa pressão interna até saudável. Muitas idéias e soluções se realizam porque pessoas são colocadas sob pressão. Quem não quer ser tendência? Quem não quer fazer algo diferente e tornar o mundo melhor com isso (e ficar rico)? O foda é manifestar essa pressão ética, social, profissional, seja lá o que for, através de críticas vazias.

Se conseguirmos que nossas idéias funcionem para a nossa vida, já é uma grande coisa. E se, por ventura, afetar mais gente, melhor ainda. Se isso acontecer, tenho certeza de que gostaríamos de ser julgados com critério e atenção aos detalhes, por isso, é bom olharmos para o espelho antes de esbravejar moralismo por aí.

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